Seguro de carro por minuto é até 80% mais barato do que o tradicional

Regulamentado no final de agosto, conheça o seguro reduzido e pago conforme o uso, que já é oferecido por startups no país

A Superintendência de Seguros Privados (Susep) regulamentou, no dia 29 de agosto, os seguros personalizados, com contratos reduzidos (por meses, dias, horas, minutos ou restritos a viagens e trechos) e que são acionados apenas durante o uso, o chamado seguro pay per use.

Enquanto grandes empresas do mercado ainda não têm perspectivas de quando irão lançar produtos do tipo, ao menos três startups já inauguraram o mercado antes mesmo do aval oficial do órgão regulador: a Onsurance, que oferece o seguro por minuto para automóveis desde abril do ano passado, e a Youse e Thinkseg. que oferecem apólices mensais.

A maior atratividade das proteções personalizadas? O preço, que fica em média 50% menor do que o de um seguro tradicional. “O seguro não é necessariamente barato, mas, sim, justo. O segurado paga apenas pelo que consome”, diz Adilair Silva, co-fundador da Onsurance.

Desconto pode ser maior

Para quem usa pouco o carro, o desconto pode ser ainda maior e chegar a 80%. É o caso da gestora de recursos humanos Estefani Balzana, 28 anos. Moradora de Macaé, no Rio de Janeiro, ela contratou o seguro da Onsurance no início do ano. Em nove meses, ela gastou 400 reais com a proteção. Caso optasse por uma apólice anual, de 3 mil reais, ou 250 reais por mês, em apenas dois meses teria gasto um valor maior.

Stefani estava há um ano sem seguro para o seu Chevrolet Prisma, que custava cerca de 2,5 mil reais por ano. “Meu marido perdeu o emprego e a proteção não coube mais no nosso orçamento”.

Quando seu marido voltou a trabalhar, Stefani resolveu pesquisar uma nova proteção, e o preço havia subido para 3,1 mil reais por ano. “Fiquei revoltada. Uso o carro cerca de duas horas por dia e durante cinco horas, em média, aos finais de semana. Na maior parte do tempo ele está parado em estacionamentos. Não vi sentido em pagar esse valor e busquei uma alternativa”.

No começo, não foi fácil ter disciplina, conta. “Esquecia de ligar e desligar o seguro”. Mas a própria startup foi aperfeiçoando o produto e criando alertas, como forma de incentivar o hábito.

Quando estaciona o carro na rua ou em supermercados, Stefani opta por ligar a proteção. “Desligo apenas na garagem de casa e na do trabalho, locais nos quais tenho mais confiança”.

Quando a gestora de RH bateu o carro, acionou a startup e recebeu instruções para tirar fotos e filmar o acidente. “O processo foi todo online. Como a minha cobertura não tinha carro reserva, a Onsurance me pagou corridas de Uber durante toda a semana na qual eu fiquei com o carro na oficina”.

Como funciona

O seguro de automóvel por minuto oferecido pela Onsurance é completo: cobre colisões, furto, roubo, perda total e parcial. A proteção tem franquia que varia entre 4% a 8% do valor do automóvel.

O funcionamento se assemelha ao de um celular pré-pago: é necessário comprar um “pacote” de créditos para ativar o seguro, que começa em 999 reais e pode ser parcelado assim como o valor de uma apólice anual. O crédito não tem prazo de validade e fica depositado no aplicativo da startup, em uma espécie de carteira digital. Depois de gastá-lo, o usuário terá de fazer recargas com valor mínimo de 299 reais.

Se o seguro for “ligado”, o crédito vai sendo consumido. Enquanto o carro está na garagem de casa ou do prédio, caso o segurado confie na segurança dos locais, basta desligar o seguro para que o uso dos créditos seja suspenso.

Para um veículo popular, que custa 30 mil reais, a proteção custa menos de 0,5 centavo por minuto. Ou seja, um percurso de uma hora irá custar cerca de 30 centavos.

O consumo do crédito pode variar conforme padrões de direção, monitorados por um dispositivo instalado no carro. É uma espécie de caixa preta baseada em inteligência artificial, que é responsável por coletar dados sobre o cliente e realizar o cálculo atuarial personalizado.

Se o segurado comece a correr acima da velocidade permitida, por exemplo, o preço do seguro por minuto pode aumentar, diz Silva. “Não é uma punição, mas sim uma cobrança justa pelo direito do cliente de dar uma ‘escorregada’”.

O sensor de partida do dispositivo permite, por exemplo, demarcar uma área segura, como a garagem de casa, na qual, ao chegar ou sair dela, a proteção é ativada ou desligada automaticamente.

A tendência é que esse processo fique mais automatizado conforme o equipamento vai “aprendendo” os hábitos do usuário.

Os alertas de que a proteção está ligada ou não são cruciais para o gerenciamento do risco. Caso o seguro esteja desligado no momento de um sinistro, o usuário não terá direito a nenhuma indenização da startup, que pode facilmente provar, por meio do dispositivo e do app, se a proteção estava ligada no momento.

Além do valor para ativação dos créditos, o usuário do seguro por minuto paga uma taxa de 39,90 reais por mês para manutenção do dispositivo embarcado no carro, que vai sendo descontada dos créditos disponíveis. “No seguro por minuto, não importa se o cliente é homem ou mulher, jovem ou velho, mas, sim, como efetivamente dirige”, explica Silva.

Em caso de sinistro, o atendimento da seguradora é digital, feito por um chatbot no Facebook, em tempo real. “Pelo dispositivo, já sabemos a localização do cliente e já o conectamos diretamente com o fornecedor. Não há burocracia e não é necessário aprovar pedidos de reparo”, diz o executivo.

A personalização ajuda a criar outros tipos de proteções. A Onsurance acaba de lançar um seguro específico para pneus, também cobrado por minuto. A proteção é vendida na forma de vouchers, de forma semelhante a créditos de celular, em lojas de pneus. O crédito para ativação da proteção em carros populares custará 99 reais e o gasto é de cerca de seis centavos por hora.

A cobertura para pneus geralmente não está prevista em seguros de carros tradicionais. “Caso o pneu fure o segurado terá de usar a franquia, que pode custar cinco vezes mais do que o pneu”.

O novo produto tem sinergia com a proteção completa. Caso ambos sejam contratados, o usuário pagará proporcionalmente menos porque precisará de apenas um dispositivo para controlar as proteções. O controle de cada uma é independente.

Concorrência

Na Youse, o seguro mensal pode ser contratado ou cancelado a qualquer momento através do aplicativo. Além disso, a seguradora possibilita mudar características da apólice, como informações do condutor ou veículo e personalização das assistências contidas dentro do seguro.

No caso de um seguro para perda total, guincho e assistência bike, caso em determinado mês o segurado não utilize a assistência bike, por exemplo, basta entrar no app e cancelá-la. O mesmo processo pode ser feito para adicionar uma assistência.
Desde o mês passado, a Thinkseg, em parceria com a Generali, oferece o seguro por uma assinatura fixa média de 94 reais, acrescida por uma variável conforme a utilização do veículo, que combina quilometragem rodada com a forma de condução do segurado.

Para Márcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg), além do seguro para carros, o seguro personalizado deve ser oferecido para bicicletas, patinetes e celulares. “São os candidatos naturais para esse tipo de seguro, que já é bastante difundido nos Estados Unidos e na Europa”.

O seguro sob demanda também permite usos específicos, como cobrir automóvel apenas durante viagens de férias. “É importante que o contrato desse tipo de proteção seja claro. Caso não seja bem vendido a possibilidade de a empresa receber reclamações é enorme”.

Fonte: Exame

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